Por Eliana Haddad
Analisando mensagens foi o tema da palestra realizada por Nena Galves, no Centro Espírita União, em São Paulo, em abril último, em homenagem ao médium e amigo Chico Xavier.
Nena comentou sobre a mensagem maior que não deve passar despercebida pelos que assistem ao filme As mães de Chico Xavier, lançado em todo o país, no último 1º. de abril, encerrando as comemorações do centenário de nascimento do médium mineiro. “Não me cabe a análise técnica da obra, mas alertar sobre a grandiosidade da vida espiritual, que está sendo mostrada nas entrelinhas da história, alinhavada pela dor sofrida por duas famílias que perdem seus filhos e por uma jovem prestes a realizar um aborto”.
Lembrou-se da situação de fragilidade que vivem as pessoas que perdem seus parentes e amigos, principalmente as mães. “É inimaginável a dor de uma mãe que perde um filho”, disse, destacando a responsabilidade dos médiuns que são procurados em busca de algum alento, de alguma mensagem, de alguma notícia dos que se foram. “São situações profundamente dolorosas, que não há palavras para consolá-las; dá vontade de abraçar, de tirar o sofrimento com as mãos”, afirmou, citando momentos comoventes de amor que presenciou na Casa da Prece, em Uberaba, MG, quando Chico parava tudo o que estava fazendo para ouvir, orientar e consolar tantas mães desesperadas, desiludidas com as perdas.
Nena fez questão de enfatizar, também, que Chico, como espírita, tinha uma conduta bastante marcante no trabalho consolador. “Ele sabia que a finalidade principal do espiritismo era educar através da explicação e prática do Evangelho de Jesus. Sua atitude perante aos necessitados de consolação não se resumia apenas em receber ou mandar recados. Ele praticava a ética cristã na sua maior profundidade -- primeiro atendia, orientava, educava pais e filhos, de forma a evitar conflitos e tragédias familiares. Sabia que o esclarecimento poderia transformar os corações, nas situações presentes e futuras. Uma vez consolidada a crise, a perda, o problema, aí sim, Chico consolava, sem julgamento, sem gerar culpas, mas de forma a levar serenidade aos corações sofridos”.
Em sua palestra, Nena resumiu as três histórias vivenciadas no filme As Mães de Chico de Chico Xavier – uma mãe que perde um filho ainda criança; outra, que perde o filho para as drogas e o suicídio, e outra, jovem, que vive os conflitos de uma gravidez inesperada. “Para compreender histórias assim, é preciso, muito mais que as mensagens, refletir sobre o que a filosofia espírita esclarece sobre esses verdadeiros dramas. Como uma mãe pode escolher a morte prematura de um filho? Por que a sedução do caminho das drogas nos jovens? Por que os casais se entregam sexualmente sem se conhecerem?”, perguntou, lembrando que, no caso do filme, as três mulheres envolvidas convivem em ambientes de muitos conflitos, por falta da educação espiritual e compreensão da vida, entre idas e vindas.
Segundo ela, é preciso compreender “além do fenômeno” como enalteceu Kardec na codificação espírita. Por isso, sua análise sobre o filme foi absolutamente doutrinária. Mas foi além, ao abordar as causas de todos aqueles sofrimentos. Falou sobre a sobrevivência da alma e a fé na vida futura, que levam à libertação dos que se foram e dos que ficaram, através e uma forma perene de consolo: a transformação de todos pela educação moral do espírito, numa conquista da paz e da compreensão verdadeiras.
Destacou a cena do filme em que Chico pergunta à mãe que perdeu o filho de cinco anos, depois de uma queda de bicicleta, num passeio com a babá – ‘Você já agradeceu a sua babá? Ela só foi um instrumento. Seu filho já estava doente... como você se sentiria se ele tivesse caido de seus próprios braços?’. Para Nena, essa foi a cena mais impactante do filme por mostrar o que é a vida espiritual, onde cada qual tem seus desafios, seus acertos e desacertos, esquecidos na vida atual, e que perante a misericórdia da lei divina, as reencarnações são oportunidades valiosas que funcionam como verdadeiros aprendizados para os devidos reajustes. “É claro que havia ali um compromisso coletivo – da mãe, do pai, do menino e da babá”, comentou, lembrando que Chico, médium extraordinário, “vendo fora do tempo e do espaço” certamente ao encontrar a mãe reconheceu toda a trajetória espiritual do grupo familiar, dando-lhe, assim, o consolo através de palavras de carinho e apoio fraterno, oferecendo-lhe a orientação que educa e edifica para sempre.
“O que queremos mesmo é que o espírito venha e diga que está bem e, de preferência, que ainda agradeça pelo o que fizemos por ele, mas nem sempre isso é possível, pois nem todos estão em condições de se submeter às comunicações e alguns são trazidos até mesmo acompanhados de mentores, que os orientam e podem até mesmo censurá-los nas palavras para que o bem seja maior”, explicou.
Disse, também, que essas mulheres que perdem seus filhos já os escolheram, ao se comprometem com a maternidade, devendo-se portanto prestar sempre muita atenção no teor das mensagens recebidas, para saber se o médium realmente está sendo fiel a detalhes, que identifiquem o desencarnado. “Chico não falava de fatos gerais, eram mensagem particulares, trazendo coisas que ninguém sabia, nomes de parentes, detalhes de conversas e até revelações da própria desencarnação”, lembrou Nena Galves.
Ela comentou que, para acolher uma mãe desesperada, um médium pode querer consolá-la através de uma mensagem em nome da caridade. “É necessário cuidado com a vulgarização dessas comunicações, cujo conteúdo as pessoas devem criteriosamente analisar com a lógica e o bom senso que a razão exige. Citou também Yvonne Pereira, lembrando que a médium ao ser procurada para psicografias definia-se como médium conselheira e procedia a orientação verbal, afinal todos podemos consolar através da palavra e atitudes de amor. Ela enfatizou o valor da psicografia como manifestação mediúnica. “Claro que a psicografia existe; se a negássemos, estaríamos desmentindo a Codificação; o que não podemos é vulgarizá-la”, observou.
Alertou, entretanto, para o fato de que “mensagens gerais, ao encontrarem uma mãe fragilizada, por exemplo, ao invés de libertá-la, podem escravizá-la pela dependência de recados e mais recados, numa busca incessante para saber sempre mais e mais sobre os entes queridos, quando deveriam ser orientadas para a prática do bem, o verdadeiro bônus que todos os filhos aguardam em forma de luz: um alento que os liberte também da saudades e do apego terreno, para também seguirem em paz os seus caminhos”.
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