quinta-feira, 10 de agosto de 2017

ANDRE  TRIGUEIRO:

HÁ ALGO NOVO NO AR

É possivel que o leitor não temha ainda se dado conta, mas pela primeira vez na história da humanidade o debate sobre suicidio está acontecendo de forma aberta, clara sem tabus ou preconceitos. Salvo os os nichos de resistência dogmática de sempre- onde  a luz da ciência e o amparo da razão não têm lugar- ou certas culturas do passado que normatizavam o autoextermínio, esta seria  realmente a primeira vez em que  o tabu em torno do assunto não resistiu á urgência de se entender o que leva alguém a se matar. É evidente que a série mais popular da história da Netflix um dos maiores serviços de streaming do mundo- contribuiu para isso. Os produtores e realizadores de Os 13 porquês(13 reasons why) sabiam  exatamente no que estavam se metendo. Lançaram uma série onde o suicídio  de uma jovem seria o ponto de partida para uma história marcada pelo desejo de vingança, onde todos os supostos algozes da vítima foram denunciados em gravações feitas  pela própria suicídia. Tudo isso numa escola que reproduz o ambiente competitivo das instituições escolares americanas(especialmente no High School) onde o massacre dos bullyngs, a execração pública nas redes  sociais  pelo cyberbullying, o assédio, a violência sexual, entre outros problemas que asfixiam  a garotada em boa parte do mundo, são mostrados didaticamente. Ponto para a Netflix por escolher  o tema do suicídio entre jovens para uma nova série. Só faltou evitar os chamados “gatilhos” cenas que podem agravar  o desequilibrio de pessoas fragilizadas psíquica ou emocionalmente- amplamente diagnosticados e registrados em numerosos estudos respaldados pela OMS- (OrganizaçãoMundial de Saúde). Em bom português, “gatilhos”  podem precipitar tentativas de suicídio e eventuais óbitos. A cena do suicídio da personagem principal foi apelativa e escatológica. Poucas vezes se viu algo parecido na TV ou no cinema. Num primeiro momento, os responsáveis  pela série justificaram a exibição de cenas fortes como essa para chocar intencionalmente o público e mostrar  como o suicídio é doloroso e dramático. Semanas depois, pressionados por especialistas  em saúde  pública mundo afora, os produtores anunciaram a inserção de alertas e advertências em episódios que estavam sem esses avisos. Será o suficiente? Quantos de nós deixaríamos de continuar assistindo a uma série por causa de uma tarja informando que o episódio contém cenas chocantes e violentas?  Em países como Nova Zelândia, as autoridades de saúde chegaram a orientar país ou responsáveis a assistirem  á série da Nerflix ao lado dos filhos ou responsáveis. O fato é que toda essa repercussão levou a Nerflix a anunciar a continuação da série. Haverá novos gatilhos? O tempo dirá. Nas primeiras semanas de exibição de os 13 porquês, o volume de atendimentos do CVV cresceu 450%. Resta saber se isso aconteceu porque a Nerflix abriu espaço para divulgar o serviço voluntário e filantrópico prestado há 55 anos pelo Centro de Valorização da Vida, ou se a série e seus gatilhos fragilizaram parte de audiência.
(Andre Trigueiro é reporter da TV Globo editor chefe do programa Cidades e Soluções Globonews e comentarista  da Rádio CBN) 

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