sábado, 26 de maio de 2012

ENXURRADA DE LIVROS "ESPÍRITA" NO MERCADO - Divaldo Franco

 

FEP: O movimento espírita tem sido invadido por uma   enxurrada de publicações que trazem a informação de serem mediúnicas. Temos   visto que os dirigentes, vários deles, não utilizam qualquer critério de   seleção doutrinária. O que nos   aconselha?

"O nosso pudor em torno do Index Expurgatorius da   Igreja Romana leva-nos, sem nos darmos conta, a uma tolerância conivente. Como   não nos é lícito estabelecer um mapa de obras que mereçam ser estudadas em   detrimento daquelas que trazem informações inautênticas em torno dos   postulados espíritas, muitos dirigentes, inadvertidamente, divulgam obras que   prejudicam mais a compreensão do Espiritismo do que   aclaram.
É muito comum dizer: mas é muito boa! Mas, muito boa,   porém não uma obra espírita e no que diz respeito à mediunidade, a mediunidade   ficou tão barateada, tão vulgarizada, que perdeu aquele critério com que Allan   Kardec a estuda em “O Livro dos   Médiuns”.
O médium é médium desde o berço. Os fenômenos nos   médiuns ostensivos começam na infância e quando têm a felicidade de receber a   diretriz da Doutrina, torna-se o que Chico Xavier denominava com muita beleza:   mediunidade com Jesus. O que equivaleria dizer: a mediunidade ética, a   mediunidade responsável, criteriosa, a mediunidade que não se permite os   desvios do momento, os   modismos.
Mas a mediunidade natural pode surgir em qualquer   época e ela surge como inspiração. O indivíduo pode cultivá-la, desenvolve-la   naturalmente.
Vem ocorrendo uma coisa muito curiosa, pela qual,   alguns espíritas desavisados, de alguma maneira, são responsáveis: se o livro   é de um autor encarnado, não se lê, porque como se ele não tivesse autoridade   de expender conceitos em torno da Doutrina. Mas, se é um livro mediúnico, ele   traz um tipo de mística, de uma chancela, e as pessoas logo acham que é o   máximo. Adotam esse livro como um Vade Mecum, trazendo coisas que chocam   porque vão de encontro aos postulados básicos do   espiritismo.
Entra agora uma coisa que é profundamente   perturbadora: o interesse comercial. Vender o livro sob a justificativa de que   as Casas Espíritas necessitam de recursos. Para atender as necessidades,   vendem obras de autoajuda, de esoterismo, de outras doutrinas, quando   deveríamos cuidar de divulgar as obras do Espiritismo, tendo um critério de   coerência.
Quando visitei Paris pela primeira vez, em 1967, eu   fui ver e conhecer a Union Spirite Française que ficava na Rua Copernique,   número 8. Era período de férias, agosto a setembro, praticamente a Europa   fecha-se e a França, principalmente. A Union estava fechada. Chamou-me a   atenção as vitrinas que exibiam obras: não tinha uma espírita. Eram obras   esotéricas, eram obras hinduístas, eram obras de Madame Blavatsky. São todas   respeitáveis, mas não temos compromisso com elas. O nosso compromisso é com   Jesus e com Kardec, sem nenhum fanatismo e sem nenhuma restrição pelas outras   obras, que consideramos valiosas para cultura, para ampliação do entendimento.   Mas, temos que optar por conhecer a Doutrina que   professamos.
Verificamos, neste momento, essa enxurrada perniciosa,   porque saem mais de cinqüenta títulos de obras pseudomediúnicas por mês, pelo   menos que nos chegam através dos catálogos, tornando-se impossíveis de serem   lidas. O que ocorre? Eu recebo entre 10 e 20 solicitações mensais, pedindo aos   Espíritos prefácios para obras que ainda estão sendo elaboradas. A pressa   desses indivíduos de projetar a imagem, de entrarem nesse pódium do sucesso é   tão grande que ainda não terminaram de psicografar - quando é psicográfica -   ou de transcrevê-la, quando é inspirada, ou de escrevê-la, quando é de próprio   punho, de própria concepção, já preocupado com o prefácio. Eu lhes digo: Bom, aos Espíritos eu não faço   solicitações. Peço desculpas por não poder mandar o prefácio desejado. Espere,   pelo menos, concluir o trabalho. Pode ser que eu morra, pode ser que você   morra e pode ser que o Guia reencarne antes de terminar a   obra.
É uma onda de perturbação para minar-nos por dentro. O   Codificador nos recorda que os piores   inimigos estão no próprio Movimento, o que torna muito difícil a   chamada seleção natural. Nós deveremos ter muito cuidado ao examinar esses   livros. Penso que as instituições deveriam ter uma comissão para lê-los,   avaliar a sua qualidade e divulgá-los ou não, porquanto as pessoas incautas ou   desconhecedoras do Espiritismo fascinam-se com ideias verdadeiramente   absurdas.
Tenho ouvido e visto declarações pessoais de médiuns   que dizem não serem espíritas e não terem nenhum vínculo com qualquer “ismo”;   são livres atiradores e as suas obras são vendidas nos Centros Espíritas,   porque vendem muito. Até amigos muito queridos têm, em suas livrarias, nos   Centros Espíritas que frequentam, essas obras que são romances interessantes,   como os antigos romances de Agatha Christie, de M. Dellyt e tais. Mas essas   obras não são espíritas, embora ditadas por um Espírito, mas ditadas ao   computador.
Essas obras são muito interessantes, ninguém contesta,   mas o tempo que se gasta, lendo-as, é um desvio do tempo de aprendizagem da   Doutrina Espírita. As pessoas ficam sempre à margem, não se aprofundam.   Observo, em nossa Instituição, pelas perguntas infantis que me   fazem.
É necessário que procuremos divulgar a Doutrina, conforme nós a herdamos do ínclito   Codificador e das entidades venerandas, que preservaram essa Doutrina   extraordinária, para que nós possamos contribuir com a construção de um   mundo melhor.
A respeito desses livros que proliferam, me causam   surpresa, quando amigos com quarenta, cinqüenta anos de idade, pessoas   lúcidas, pessoas cultas, que nunca foram médiuns, ou, pelo menos, jamais o   disseram, escrevem livros até ingênuos, que nem são bons nem são maus, e rotulam como mediúnicos e passam a vender,   porque são   mediúnicos.
Realmente, a questão deve ser muito bem estudada,   inclusive, penso, que pelo Conselho Federativo Nacional para se tomar uma   providência. Não de cercear-se a liberdade — não temos esse direito, mas pelo   menos de esclarecer os leitores e procurar demonstrar quais são as   características de uma obra espírita e as características de uma obra   imaginativa.
Um dos livros mais vendidos, dito mediúnico, tem   verdadeiras aberrações, em que a entidade fez do mundo espiritual uma cópia do   mundo físico, ao invés de o mundo físico ser uma cópia do mundo espiritual.   Inverteu, porque o Espírito está tão físico no mundo espiritual! E um Espírito   do sexo feminino, que tem os fluxos catamênicos no mundo espiritual e que vai   ao banheiro e dá descarga!
Outras obras, igualmente muito graves,   falam de relacionamentos sexuais para promoverem reencarnação no Além. Ora, a   palavra reencarnação já caracteriza tomar um corpo de carne. Como reencarnar   no Além, no mundo de energia, de fluidos, onde não existe a carne? O Além, com   ninhos de passarinhos multiplicando-se, em que as aves vêm, chocam e nascem os   filhotinhos. Não é que estejamos contra qualquer coisa, mas é que são   delírios, pura   fascinação.
Acredito que alguns desses médiuns são médiuns   autênticos. Ocorre que eles não perderam a mediunidade, a sua faculdade   mediúnica é que mudou de mãos, daquelas entidades respeitáveis para as   entidades frívolas que estão criando verdadeiros embaraços, porque em   determinados seminários, palestras, fazem perguntas diretas e ficamos numa   situação delicada, porque citam os nomes. Toda vez que dizem os nomes eu me   recuso responder. Numa pergunta em tese muito bem, mas declinar nomes, não.   Não tenho esse direito de levar alguém ao   escárnio.
Dessa forma, o problema é mais grave do que parece,   porque muitos também estão fazendo disso profissão, embolsam o resultado das   vendas. Enquanto outros justificam obras de má qualidade, por terem um   objetivo nobre: ajudar obras de assistência social. Os meios não justificam os   fins."




Techos da entrevista do Divaldo Franco no livro Conversando com Divaldo Pereira Franco editado pela Federação Espírita do Paraná sobre as obras espíritas.






Observação do Grupo de Estudo Allan Kardec: No O Livro dos Médiuns, cap. XX, item 226, 9ª pergunta, os Espíritos nos alertam dizendo que, médium bom é coisa rara. E completa: “O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes." Como vemos, não há médiuns perfeitos na Terra e, hora ou outra todos são enganados. Por isso, fiquemos alertas com as leituras, sem querermos humilhar, denegrir a imagem dos médiuns. "Espíritas, amai-vos....."






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