segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A NOVELA "SALVE JORGE" NA MIRA DA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA


           
 
Tem sido veiculada nas redes sociais uma manifestação de setores evangélicos contra a novela Salve Jorge, pela suposta relação que existiria entre o conteúdo da novela exibida pela Rede Globo e a figura de São Jorge, que é venerado como o orixá Ogum pelos adeptos da Umbanda.
Há quem veja na manifestação uma disputa de bastidores por razões puramente econômicas. Esse é o  pensamento de dois parlamentares do Rio de Janeiro, o deputado Átila Nunes e o vereador eleito Átila Alexandre Nunes.
Pode ser que tenham razão. O fato concreto, porém, é que, ao declararem guerra à novela da Globo, os ditos setores evangélicos alegam que seu enredo seria uma adoração ao orixá Ogum, o mesmo São Jorge das tradições católicas. A manifestação pede, então, que os evangélicos não assistam à novela Salve Jorge, mas, sim, no seu lugar, à reprise da novela Rei Davi, que reestreou na mesma noite, quando a Globo alcançou 35 pontos no Ibope, enquanto a Record, que exibe Rei Davi, obteve modestos 6 pontos.
Em sua intolerância religiosa, os ditos setores evangélicos acusam São Jorge de ser um deus pagão travestido de santo, ao passo que Davi teria sido, de fato, um herói verdadeiro. Por causa disso, buscam convencer seus fiéis de que não é possível aceitar em suas casas algo que contrariaria diretamente sua fé.
São Jorge, que teria vivido entre os anos 275 e 303 da era cristã, foi, de acordo com a tradição, um soldado romano que integrou o exército do imperador Diocleciano e, anos depois, por suas ações em favor dos cristãos, considerado um mártir do Cristianismo. Por causa disso, é ele um dos santos mais venerados nas hostes do Catolicismo e em diversos cultos das religiões afro-brasileiras, onde é sincretizado na forma de Ogum. E é, ainda, o santo padroeiro de diversos países, além de patrono dos escoteiros, do clube de futebol Corinthians Paulista e da Cavalaria do Exército Brasileiro.
Tudo, pois, nos sugere que a guerra à novela é, no fundo, mais uma reação fundamentalista de fanáticos religiosos contra a Umbanda, que tem em Ogum um de seus ícones mais importantes, e também contra as tradições católicas, em flagrante desrespeito à diversidade religiosa, consagrada na Constituição brasileira.
Infelizmente, os fatos demonstram que certos setores das chamadas religiões evangélicas não perdem jamais a oportunidade de manifestar seu preconceito contra os que não pensam como eles, incluindo no rol de seus desafetos os umbandistas, os espíritas e os católicos, esquecidos de que é livre no Brasil o culto da religião que desejarmos.
Essa liberdade não é um favor do governo de plantão, mas um preceito constitucional, que eles invariavelmente desrespeitam, agindo exatamente de modo contrário ao que era praticado por Jesus, que jamais fez acepção de pessoas, fossem elas pobres ou ricas, damas  ou prostitutas, publicanos ou simples contribuintes.
                    





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