Como
analisar o conflito entre judeus e palestinos? Se seguirmos a lógica de quem
chegou primeiro à região, então os palestinos (antigos filisteus) estão com a
razão, pois estavam lá muito antes de Isaque. Neste caso, os judeus deveriam
abandonar a Palestina e voltar a ser um povo errante, como era Jacó e seus
filhos, ou então deveriam pedir cidadania iraquiana e se mudarem para o Iraque,
que é onde ficava a cidade de Ur, de onde saiu Abraão (que também foi pai de
Ismael).
A
questão de utilizar o critério de quem chegou primeiro à região pode gerar
dúvidas, pois em que pese os filisteus (antepassados dos atuais palestinos),
habitarem aquela terra muito antes dos israelitas, é possível que outros povos
tenham sido expulsos pelos filisteus a fim de tomarem o seu lugar. Destarte, os
palestinos podem se basear no argumento, não de quem estava primeiro na terra,
mas de quem a conquistou. O nó da questão está aí, pois nesse caso, o direito
passou para os judeus atuais, que conquistaram a terra dos povos que os
antecederam.
A
rigor, o conflito contemporâneo tem suas matrizes no movimento sionista e na
criação do Estado de Israel, não reconhecido pelos palestinos. A situação
se intensificou a partir da Primeira Guerra Mundial, quando se deu o fim do
Império Otomano, e a Palestina, que fazia parte dele, passou a ser administrada
pela Inglaterra. A região possuía 27 mil quilômetros quadrados e abrigava uma
população árabe de um milhão de pessoas, enquanto os habitantes judeus não
ultrapassavam 100 mil. A Inglaterra apoiava o movimento sionista, criado no
final do século 19 com o objetivo de fundar um Estado judaico na região
palestina, considerada o berço do povo judeu. Após a guerra ocorreu uma grande
migração de judeus para o local.
Na
década de 30, com a ascensão do nazismo na Alemanha e o aumento das
perseguições contra os judeus na Europa, a migração judaica para a região
cresceu vertiginosamente. Terminada a Segunda Guerra Mundial e o fim do
Holocausto, que levou ao extermínio de 6 milhões de judeus, a crescente demanda
internacional pela criação de um estado israelense fez com que a Organização
das Nações Unidas (ONU) aprovasse, em 1947, um plano de partilha da Palestina
em dois Estados: um judeu, ocupando 57% da área, e outro palestino (árabe) com
o restante das terras. Como percebemos, essa partilha desigual em relação
à ocupação histórica, desagradou os países árabes em geral. É compreensível que
além da questão religiosa, os atuais conflitos tenham também a ver com a
territorialidade, com a economia e com relações sociais concretas.
Nesse
funesto cenário, ficamos apreensivos diante da espetacularização televisa
em horário nobre, exibindo os dramas reais que vêm ocorrendo na região,
protagonizados por semitas eliminando-se uns aos outros, em atitudes de
vindita por complexas causas. Nessa luta desigual os filhos de Isaque detêm o
poderio material, possuem armas de guerra potentes, esmagando inapelavelmente
os filhos de Ismael, que por deterem apenas pedaços de pedras, apelam para uma
espécie de haraquiri com bombas.
O
reverso dessa situação encontramos na Pátria do Evangelho, posto que árabes e
judeus fazem uma competição a serviço do bem. Em São Paulo, por exemplo, essa
inteligente rivalidade efetiva-se através da edificação de duas instituições
primorosas: o Hospital Sírio-Libanês e o Hospital Albert Einstein. Quando será
que na região da Palestina, árabes e judeus travarão uma competição para o bem,
em vez de ficarem jogando bombas e pedras uns nos outros?
Buscando
lá atrás o histórico dos árabes e palestinos, saberemos que descendem de
Ismael, filho bastardo de Abraão com Agar, a escrava egípcia de Sara (esposa de
Abraão e estéril à época), lembrando aqui que a gravidez foi consentida por
Sara. Mais tarde, a esposa de Abraão engravidou e deu à luz Isaque, do qual são
descendentes os judeus.
Folclórico
ou não, pelo fato de possuírem mães diferentes, Isaque (Sara) e Ismael (Agar)
deixaram para os descendentes duas nações, dois povos com índole de aversão,
que vêm brigando um com o outro desde os mais recuados primórdios das gerações
oriundas deles, ou seja, há mais de 3.500 anos.
Narra-se
que por ocasião do desmame de Isaque, seu pai Abraão fez uma grande festa para
comemorar o fato, oportunidade em que Ismael cismou de fazer gracejos contra o
seu irmão. Sara não aprovou a situação familiar, exigindo de Abraão que
rejeitasse Agar e Ismael. Desde então, mãe e filho foram para o escaldante
deserto e caminharam por tortuosas rotas de sofrimento.
Na
tradição bíblica esse episódio está consignado da seguinte forma: “Porque por
Isaque será chamada a tua descendência”.(1) Entretanto, há uma referência de
benesses divinas igualmente para Ismael, o bastardo. Vejamos: “Que tens, Agar?
Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está. Ergue-te,
levanta o menino e pega-lhe pela mão, porque dele farei uma grande
nação."(2)
De
que maneira a humanidade atual poderá ajudar palestinos, filhos de Ismael, e
Judeus, filhos de Isaque, a solucionar esses dilemas históricos? Seria através
dos canais diplomáticos da ONU, da ação dos que lutam pela Justiça, pela
Dignidade Humana, pela Paz?
Cremos
que judeus e palestinos podem conviver, no respeito recíproco, trocando o fuzil
pelo abraço, trocando a exclusão pela partilha, trocando a incompreensão pela
tolerância. Quem sabe o Espiritismo, nessa conjuntura, possa levar-lhes a
Mensagem do Evangelho, consubstanciado na lei do amor, da fraternidade, do
perdão, da reencarnação, da comunicabilidade dos desencarnados, transformando gradualmente
a lei mosaica e do alcorão, justificados pela lei de talião (olho por olho,
dente por dente), que têm gerado, cada vez mais, ódio sobre ódio, tal como
estamos assistindo no proscênio dessa estúpida guerra do Oriente Médio!
Jorge
Hessen