quarta-feira, 16 de julho de 2014

SEMITAS DE DUAS REGIÕES COM VÁRIAS HISTÓRIAS


Como analisar o conflito entre judeus e palestinos? Se seguirmos a lógica de quem chegou primeiro à região, então os palestinos (antigos filisteus) estão com a razão, pois estavam lá muito antes de Isaque. Neste caso, os judeus deveriam abandonar a Palestina e voltar a ser um povo errante, como era Jacó e seus filhos, ou então deveriam pedir cidadania iraquiana e se mudarem para o Iraque, que é onde ficava a cidade de Ur, de onde saiu Abraão (que também foi pai de Ismael).
A questão de utilizar o critério de quem chegou primeiro à região pode gerar dúvidas, pois em que pese os filisteus (antepassados dos atuais palestinos), habitarem aquela terra muito antes dos israelitas, é possível que outros povos tenham sido expulsos pelos filisteus a fim de tomarem o seu lugar. Destarte, os palestinos podem se basear no argumento, não de quem estava primeiro na terra, mas de quem a conquistou. O nó da questão está aí, pois nesse caso, o direito passou para os judeus atuais, que conquistaram a terra dos povos que os antecederam.
A rigor, o conflito contemporâneo tem suas matrizes no movimento sionista e na criação do Estado de Israel, não reconhecido pelos palestinos. A situação se intensificou a partir da Primeira Guerra Mundial, quando se deu o fim do Império Otomano, e a Palestina, que fazia parte dele, passou a ser administrada pela Inglaterra. A região possuía 27 mil quilômetros quadrados e abrigava uma população árabe de um milhão de pessoas, enquanto os habitantes judeus não ultrapassavam 100 mil. A Inglaterra apoiava o movimento sionista, criado no final do século 19 com o objetivo de fundar um Estado judaico na região palestina, considerada o berço do povo judeu. Após a guerra ocorreu uma grande migração de judeus para o local.
Na década de 30, com a ascensão do nazismo na Alemanha e o aumento das perseguições contra os judeus na Europa, a migração judaica para a região cresceu vertiginosamente. Terminada a Segunda Guerra Mundial e o fim do Holocausto, que levou ao extermínio de 6 milhões de judeus, a crescente demanda internacional pela criação de um estado israelense fez com que a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovasse, em 1947, um plano de partilha da Palestina em dois Estados: um judeu, ocupando 57% da área, e outro palestino (árabe) com o restante das terras.  Como percebemos, essa partilha desigual em relação à ocupação histórica, desagradou os países árabes em geral. É compreensível que além da questão religiosa, os atuais conflitos tenham também a ver com a territorialidade, com a economia e com relações sociais concretas.
Nesse funesto cenário, ficamos apreensivos diante da espetacularização televisa  em horário nobre, exibindo os dramas reais que vêm ocorrendo na região, protagonizados por semitas  eliminando-se uns aos outros, em atitudes de vindita por complexas causas. Nessa luta desigual os filhos de Isaque detêm o poderio material, possuem armas de guerra potentes, esmagando inapelavelmente os filhos de Ismael, que por deterem apenas pedaços de pedras, apelam para uma espécie de haraquiri com bombas.
O reverso dessa situação encontramos na Pátria do Evangelho, posto que árabes e judeus fazem uma competição a serviço do bem. Em São Paulo, por exemplo, essa inteligente rivalidade efetiva-se através da edificação de duas instituições primorosas: o Hospital Sírio-Libanês e o Hospital Albert Einstein. Quando será que na região da Palestina, árabes e judeus travarão uma competição para o bem, em vez de ficarem jogando bombas e pedras uns nos outros?
Buscando lá atrás o histórico dos árabes e palestinos, saberemos que descendem de Ismael, filho bastardo de Abraão com Agar, a escrava egípcia de Sara (esposa de Abraão e estéril à época), lembrando aqui que a gravidez foi consentida por Sara. Mais tarde, a esposa de Abraão engravidou e deu à luz Isaque, do qual são descendentes os judeus.
Folclórico ou não, pelo fato de possuírem mães diferentes, Isaque (Sara) e Ismael (Agar) deixaram para os descendentes duas nações, dois povos com índole de aversão, que vêm brigando um com o outro desde os mais recuados primórdios das gerações oriundas deles, ou seja, há mais de 3.500 anos.
Narra-se que por ocasião do desmame de Isaque, seu pai Abraão fez uma grande festa para comemorar o fato, oportunidade em que Ismael cismou de fazer gracejos contra o seu irmão. Sara não aprovou a situação familiar, exigindo de Abraão que rejeitasse Agar e Ismael. Desde então, mãe e filho foram para o escaldante deserto e caminharam por tortuosas rotas de sofrimento.
Na tradição bíblica esse episódio está consignado da seguinte forma: “Porque por Isaque será chamada a tua descendência”.(1) Entretanto, há uma referência de benesses divinas igualmente para Ismael, o bastardo. Vejamos: “Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está. Ergue-te, levanta o menino e pega-lhe pela mão, porque dele farei uma grande nação."(2)
De que maneira a humanidade atual poderá ajudar palestinos, filhos de Ismael, e Judeus, filhos de Isaque, a solucionar esses dilemas históricos? Seria através dos canais diplomáticos da ONU, da ação dos que lutam pela Justiça, pela Dignidade Humana, pela Paz?
Cremos que judeus e palestinos podem conviver, no respeito recíproco, trocando o fuzil pelo abraço, trocando a exclusão pela partilha, trocando a incompreensão pela tolerância. Quem sabe o Espiritismo, nessa conjuntura, possa levar-lhes a Mensagem do Evangelho, consubstanciado na lei do amor, da fraternidade, do perdão, da reencarnação, da comunicabilidade dos desencarnados, transformando gradualmente a lei mosaica e do alcorão, justificados pela lei de talião (olho por olho, dente por dente), que têm gerado, cada vez mais, ódio sobre ódio, tal como estamos assistindo no proscênio dessa estúpida guerra do Oriente Médio!

Jorge Hessen